Por Vinícius Guahy
A mesa de abertura do XIV Controversas contou com a presença dos jornalistas Andrea Dip, repórter da Agência Pública, Bernardo Mello Franco, colunista do jornal O Globo) e Rodolfo Schneider, diretor de Jornalismo da Band no Rio de Janeiro. A mesa teve como tema a cobertura jornalística das últimas eleições, com mediação das alunas Andrezza Buzzani e Bruna Rezende.
Não por coincidência, os três profissionais escolhidos tiveram atuações marcantes e diferentes entre si na cobertura da eleição. Andrea, como jornalista de uma agência independente, iniciou a mesa fazendo uma reflexão sobre os ineditismos que marcaram as eleições de 2018.
Segundo ela, um dos atores principais foi o WhatsApp, que não apenas marcou a disputa eleitoral, como foi decisivo para o resultado. “Mais do que qualquer coisa, nós tivemos uma disputa de narrativas, até mesmo no campo dos afetos (...) alguns jornalistas até tentaram falar sobre planos de governo, mas ninguém estava interessado”.
Ela explicou que a Pública teve duas abordagens nas eleições: a cobertura de dia a dia, por meio da agência de checagem Truco, e a produção de reportagens maiores, que contava também entrevistas com filósofos e outros cientistas sociais.
Bernardo teve uma atuação diferente. Pela primeira vez cobriu uma eleição como colunista diário, buscando entender e interpretar todos os dias o que acontecia. Para ele, um dos maiores desafios dos colunistas na última eleição foi buscar, diante de tudo o que acontecia, o que era realmente importante. “A gente nunca consumiu tanta notícia (...) mas isso não quer dizer que todo esse bombardeio esteja deixando as pessoas mais bem informadas”.
Em sua oitava eleição como jornalista, Bernardo disse ter sentido que o pleito de 2018 foi o mais extremado do qual participou, o que aumentou seu desafio como colunista. Ao mesmo tempo que precisava dar sua opinião, sentia que o mais importante era informar o eleitor.
O âncora Rodolfo Schneider concordou com os colegas de mesa sobre os ineditismos que marcaram as eleições de 2018. Para ele, que trabalhou principalmente nas eleições ao governo do Rio, a vitória de Wilson Witzel ao Palácio Guanabara foi um dos símbolos do que representou a força das redes sociais. “Caiu por terra o argumento de que o tempo de televisão era decisivo”.
Segundo Schneider, as redes sociais possuem lados positivos e negativos, pois ao mesmo tempo que democratizaram o debate político, possibilitando que cada vez mais pessoas pudessem falar, ajudaram na disseminação de notícias falsas. “Não adianta a gente ter essa amplitude toda de informação, se as pessoas não estiverem preparadas para receber (...) a nossa população vai ter que amadurecer”.
Os três jornalistas concordaram que as eleições foram marcadas primeiro pela forte presença das redes sociais. Segundo, pela forte tensão, que para Rodolfo Schneider foi algo muito mais no mundo virtual do que observado nas ruas. “Você pega democracias rachadas com pólos de esquerda e direta muito divididos (...) no Brasil não tem isso”.
Para Bernardo, esse é o momento para o jornalismo profissional entrar em ação. Segundo ele, há na internet muita publicidade disfarçada de jornalismo. “Eles usam toda a estrutura jornalística, mas quando você abre percebe que a informação não foi apurada (...) o jornalismo é oposição, o resto é armazém de secos e molhados, como dizia Millôr Fernandes”.
Andrea foi ao encontro da fala de Bernardo, ao ressaltar a importância do bom jornalismo e da boa apuração. Ela recorda que muitas vezes se deparou com dados que haviam sido disseminados em vários portais de notícia, mas quando ia conferir a veracidade, eram falsos. “É exatamente aí que a gente vai disputar, fazendo um bom jornalismo, honesto e baseado em fatos”.
As mediadoras da mesa aproveitaram o evento para perguntar para Andrea e Bernardo sobre os livros que acabaram de lançar. Andrea publicou “Em nome de quem”, sobre o projeto de poder da bancada evangélica, no Brasil. Segundo ela, apesar da bancada ter ganhado força com a eleição de Jair Bolsonaro, ela diminui numericamente. “Mesmo assim, os projetos aprovados pela bancada evangélica eram muitas vezes barrados pelo Executivo, agora o medo é que eles isso não aconteça mais”.
Já Bernardo lançou o livro 1.000 noites de tormenta, uma compilação de suas colunas que passa pelo processo de impeachment da presidente Dilma até o impedimento da denúncia contra Michel Temer. Ele conta que a maior dificuldade foi escolher a data final do livro. “Assim que o congresso barrou a segunda denúncia contra o Temer, vi que tínhamos uma história pra contar (...). Quando pensei que as coisas ficariam mais tranquilas, vêm 2018 e Bolsonaro”.
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