Por Filipe Pavão
“O uso do WhatsApp para fins políticos, nas últimas eleições, não me surpreendeu. Nós [especialistas em marketing digital] avisamos que isso aconteceria”, disse a especialista em Planejamento Estratégico de Marketing Elis Monteiro, ao ser questionada sobre a utilização do aplicativo para disparos de mensagens aos eleitores, durante a corrida eleitoral. Elis esteve presente no Controversas 2018 para debater “A tecnologia a serviço da caça aos votos” junto ao pesquisador de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúgio Vargas (FGV) Lucas Calil e os estudantes João Vitor Reis e Thaiane Mariano, que mediaram a conversa.
Para Lucas Calil, está evidente que, em 2018, as redes tomaram o protagonismo e o tempo de televisão não definiu mais nada. “A prova disso está no fraco desempenho do PSDB, apesar do tempo de tevê que teve nessa última eleição”, exemplificou. O que o surpreendeu foi a transferências de votos nas últimas 48 horas da votação, nas disputas para cargos regionais (senador, governador, deputado federal e estadual).
A utilização do WhatsApp ainda levantou o debate das fake news. O Facebook e o Twitter tomaram medidas a fim de controlar a disseminação de notícias falsas, o que não aconteceu com o WhatsApp. “A mamadeira do Haddad me venceu”, brincou Elis ao se referir à notícia falsa de que Fernando Haddad, então candidato à presidência, havia distribuído mamadeiras eróticas para crianças, em escolas públicas, a fim de combater a homofobia.
Esse debate em torno do uso das plataformas digitais e, em especial, das redes sociais, alçou uma nova questão a se pensar: quais são os limites do marketing? Elis citou o uso de disparo simultâneo de mensagens por empresas como uma ferramenta que pode ser incômoda e ainda mais grave quando utilizada para potencializar a disseminação de notícias falsas, como registrado na última corrida eleitoral.
Os debatedores defenderam a regulação do WhatsApp. “A gente lida com tecnologias que não têm barreiras geográficas”, lembrou Lucas. Além disso, ele propôs uma reflexão para o jornalismo, o de pensar estruturas fora do ambiente das redes digitais, sem culpabilizá-las. “Qual é o papel do jornalista? É o de sanar as dúvidas sobre os fatos”, disse. Elis acrescentou que os jornalistas acreditavam que definiriam as plataformas de consumo de notícias, mas que isso não acontece mais. As pessoas consomem conteúdos fora do ambiente dos jornais e portais de notícias.
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