Por Filipe Pavão
Mesmo reconhecendo que a disseminação maciça de notícias falsas via WhatsApp influiu no resultado das últimas eleições, a jornalista Ana Rita Cunha, da agência de checagem Aos Fatos, considera que não se deve demonizar as redes, nem considerá-las nocivas às democracias. Para ela, essas redes são importantes não apenas para as pessoas se reunirem, mas também para a disseminação de notícias e informações.
Ana Rita participou com o cientista social Eduardo Barbabela, do website Manchetômetro, de mesa sobre o papel das agências de checagem nas últimas eleições, no segundo dia do Controversas. As estudantes Julliana Martins e Rayssa Moura mediaram o painel, que abordou ainda a utilização do WhatsApp como estratégia de campanha.
Segundo Eduardo, a candidata à presidência Marina Silva já havia levantado os holofotes para as redes sociais em 2010. No entanto, somente em 2018, com a campanha de Jair Bolsonaro à presidência, ficou evidente a necessidade de se entender esse universo virtual, em especial, o WhatsApp. Ele acrescentou que o prognóstico de Jair Bolsonaro foi não trabalhar com a grande mídia. Ele confrontou o agendamento dos principais veículos, ao atuar em suas redes sociais, como Facebook e Twitter.
“A gente não conseguiu acompanhar com pesquisas de opinião o que estava acontecendo. O [senador eleito apoiado por Jair Bolsonaro] Arolde de Oliveira, por exemplo, é uma grande incógnita, porque ele não aparecia sequer como possibilidade. A tecnologia tem mudado e a eleição de 2018 trouxe uma novidade, nós teremos que olhar para as redes com muito mais interesse e tornar isso mais importante que antes”, disse Eduardo.
Para Ana Rita, a tecnologia tem tudo a ver com o avanço das agências de checagem. Ela cita um desafio advindo desse avanço: averiguar o que é compartilhado no WhatsApp, já que nessa rede os dados são criptografados. Ana ainda ressaltou que a checagem preza pela transparência e a tecnologia permite isso; o cidadão pode refazer todo o caminho da checagem a partir dos links. Além disso, ela alertou que ainda há muitas dúvidas a serem esclarecidas.
“Sobre o impacto das redes sociais nas eleições, a gente tem mais perguntas que respostas. A gente percebe que foi importante, mas em que dimensão foi importante: foi na recepção, foi no agrupamento de pessoas com interesses em comum ou foi na disseminação de notícias falsas?
Ana e Eduardo ainda explicaram como funcionam seus projetos de trabalho e como a tecnologia pode disseminar informação correta a partir de duas iniciativas. Para combater as fake news, a agência de checagem Aos Fatos criou a robô Fátima, que avisa usuários de redes sociais que eles podem estar compartilhando notícias falsas. O nome vem da abreviação das palavras fact (fatos) e machine (máquina). Já o website Manchetômetro criou um instrumento de monitoramento de temas políticos chamado M Facebook. O objetivo é compreender como a rede reage a determinados assuntos, a partir de um levantamento quantitativo de páginas.
Comments